sexta-feira, 27 de abril de 2012

Incompatível com a vida


Todo o debate em torno do aborto em casos de anencefalia me fez lembrar da primeira vez que ouvi o termo “incompatível com a vida”. Perdi o chão. Era tão definitivo e claro que mesmo o jornalista mais questionador fica sem perguntas. Ou melhor, só com uma:  Porquê?
Esta frase chegou aos meus ouvidos em agosto passado. Depois de várias tentativas – inseminações, FIVs e ICSIs, mudei de clínica e me recomendaram fazer o PGD. Eu faria (e fiz) qualquer coisa que me recomendassem, desde que tivesse o mínimo de lógica.
O PGD é um exame caro, quase do preço da FIV em si. E, não sei se foi por causa do preço, nenhum médico havia me proposto tal exame ate então. Trata-se de um diagnóstico genético pré-implantacional feito na fase blastocisto do embrião e que analisa 24 cromossomos. Em mulheres que tentam a gravidez um pouco mais tarde ele é fundamental para descartar a possibilidade de um bebê com doenças cromossômicas, como a Síndrome de Down, por exemplo, ou ainda o risco de uma implantação de embriões que não vai adiante ou, se for, levará a um aborto.
Se este exame é tão importante e eu já passei dos “enta” porque não me propuseram isso antes? Será que isso explicava minhas tentativas frustradas?  E se alguma tivesse dado certo, qual o estado de saúde do bebê?
Deixando as elucubrações de lado, fiz o exame e em agosto saiu o resultado. Eram dois embriões. Tinha feito a primeira parte da FIV – que inclui hormônios, injeções, punção, etc – e aguardava a evolução dos embriões para a segunda parte, que é a implantação. Neste dia você vai pra clínica cheia de esperança de voltar com seus bebezinhos no forno e até respira devagar para que nada atrapalhe a implantação. Bem, eu voltei sem nada. Ao chegar na clínica o resultado do exame e as palavras “incompatível com a vida” falaram mais alto. Um dos embriões tinha um problema no cromossomo 16 e o outro estava com mais de quatro cromossomos alterados. Não iriam viver. A sensação é de luto.
Voltei pra casa com a sentimento de que nunca mais passaria por isso. Durou pouco. Com a racionalidade prática dos meninos, meu marido me convenceu do contrário. Agora, finalmente, sabíamos o que estava acontecendo e poderíamos arriscar com mais segurança. Fazer novas tentativas e implantar apenas se os bebezinhos estivessem com saúde.
E cá estou eu no quarto mês de gravidez. Já passei pelo temível exame de translucência nucal, que detecta sinais de problemas genéticos, como a Síndrome de Down, e está tudo bem. Só agora criei coragem para começar a tricotar parte do enxoval.

Nenhum comentário:

Postar um comentário